Blogueiro
convidado: André Luis Cia vai além das empreguetes e relembra outras
empregadas.
Não é de hoje que as empregadas domésticas são destaque em nossa
teledramaturgia. Há quase 50 anos atrás, Rosamaria Murtinho já protagonizou uma novela da TV Excelsior de 1964 chamada “A moça que veio de
longe”,
no papel de uma empregada. Também merece destaque as empregadas protagonistas
de “Sem
lenço sem documento”, novela que Mário Prata escreveu em 1977. No entanto, é inegável
que elas nunca ganharam tanto destaque quanto estão ganhando agora. Esse
assunto já foi tema do melão em um post em parceria com Eddy Fernandes. Mas
para celebrar o sucesso das empreguetes de “Cheias de Charme” e também para relembrar outras célebres domésticas, o melão
convocou o roteirista e noveleiro André Luis Cia, que recorre à sua memória afetiva, citando suas favoritas. Vamos a
elas.
AS
EMPREGADAS QUE CONQUISTARAM O BRASIL
Por
André Luís Cia
Coube à dupla Filipe
Miguez e Izabel de Oliveira, estreantes como autores titulares em novelas, a
ousadia e o desafio de alçarem ao posto de protagonistas três empregadas
domésticas no horário nobre. O tiro que podia ter saído pela culatra foi um
grande acerto e a trama de “Cheias de Charme”, que entra em seus últimos dias
de exibição foi um dos maiores sucessos da TV Globo na faixa das 19h. A
audiência, muitas vezes, chegou a números surpreendentes, próximos ao do
folhetim das 21h.
Muito desse sucesso
deve-se ao carisma das três atrizes: Taís Araujo (Penha), Leandra Leal
(Rosário) e Isabella Drummond (Cida). Todas as três com Maria no primeiro nome,
mas conhecidas mesmo pelo segundo. Mulheres brasileiras acima de tudo: no nome
e também na personalidade porque apesar das adversidades que passaram nunca
perderam o desejo de lutar e de vencer. Talvez por isso tenham conquistado o
Brasil e também a crítica televisiva. Na mesma novela, Titina Medeiros, que
vive a empregada Socorro também convenceu e ganhou espaço, inclusive, muitas
das cenas inesquecíveis de “Cheias de Charme” teve a participação direta ou
indireta da atriz.
Depois de muitos
anos, o horário das 19h recuperou o prestígio que tinha no passado. Ansioso
para que o remake de “Guerra dos Sexos”, que está sendo reescrita também pelo
seu titular Silvio de Abreu repita os mesmos números de Cheias de Charme. Não
tenho dúvida que conseguirá tal proeza, pois a trama marcou toda uma geração
nos anos 80, inclusive a minha.
Mas retornando à
Cheias de Charme, tenho que parabenizar o brilhante texto dos autores.
Lançar-se no mercado num trabalho solo ainda mais num horário tão competitivo e
cobrado não é tarefa para qualquer um. Filipe e Izabel, apesar da experiência
de colaboradores em outras novelas, podiam ter decretado suas próprias
aposentadorias com esse texto. Ainda bem que o resultado superou qualquer
perspectiva e já foi anunciado que a dupla poderá ocupar o posto deixado por
Carlos Lombardi em 2013 (que foi para a TV Record), ou seja, garantia de um
novo trabalho à vista.
Fico feliz em saber
que a TV está abrindo espaço para novos talentos na dramaturgia. Essa abertura
de mercado é fundamental para o fortalecimento e renovação do produto telenovela.
Como tudo nessa vida, a dramaturgia também pede coisas novas e sangue diferente
sempre faz muito bem. Palmas para quem valoriza o novo e se espelha no velho.
Essa é a fórmula da vida: unir experiência com juventude porque são os ciclos
que movem o mundo e a roda giratória humana.
Antes de Cheias de
Charme, outras novelas também tiveram empregadas que se destacaram muito mais
do que a sinopse previa. Vale ressaltar aqui que isso aconteceu por mérito total de suas intérpretes aliado ao
olho clínico do autor que percebeu o diamante bruto que tinha em mãos e que só
precisava ser lapidado.
Em “Fina Estampa”, por exemplo, de Aguinaldo
Silva, uma dupla de empregados literalmente roubou a cena: o mordomo Crô
Valério e Marilda (Kátia Moraes),
brilhantemente interpretado pelos dois conquistaram o público com seus bordões
e bom humor. Os momentos mais divertidos da novela foram do núcleo deles.
Fizeram tanto sucesso que Crô e Marilda
serão transportados também pelas mãos de Aguinaldo Silva para a telona dos cinemas.
Garantia de muita diversão para todos os fãs que ficaram saudosos dessa
dobradinha que deu certo.
Há de se destacar
ainda que Kátia, ao contrário das protagonistas de Cheias de Charme, estreava na TV. Por esse motivo, todos os
méritos devem ser atribuídos à atriz que estreou com os dois pés muito bem
fincados na nossa telinha. Tiradas como “anã de jardim”, “pigméia”, “meia
porção”, “chaveirinho” e o momento da desforra com Tereza Cristina (a vilã
charmosa de Cristiane Torloni) marcaram definitivamente a personagem.
Atualmente, outra
empregada rouba a cena em “Avenida Brasil”. Na novela de João Emanuel Carneiro
que enfoca a guerra psicológica e a dubiedade entre as protagonistas Carminha
(Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella), toda história é centrada
praticamente no núcleo do subúrbio, que acontece no fictício bairro do Divino.
Até mesmo as personagens da zona sul estão mudando-se para o local. Mas é na
mansão de Tufão (Murílio Benício), que uma empregada ganhou voz e vez: a Zezé
(de Cacau Protásio). Apesar de ter feito outras novelas foi somente com sua
hilária Zezé, que a atriz teve visibilidade, e assim como a Marilda de Fina Estampa,
conquistou mais destaque.
Janaina (Claudia Missura) e Zezé (Cacau Protássio) sucesso ás 21 horas |
Bem antes delas, não
podemos nos esquecer de outras empregadas cativantes: a Mirna, da atriz Ilva
Niño, em “Roque Santeiro”. Sua parceria com Regina Duarte era hilária e marcou
época. As duas protagonizaram grandes cenas na fictícia Asa Branca.
Também não podemos
deixar de lado as empregadas sensuais da nossa telinha que fizeram subir a
temperatura e mexeram com os hormônios masculinos. No momento, Juliana Paes
esbanja sensualidade com sua “Gabriela”- título homônimo da novela reescrita
por Walcyr Carrasco, baseada na obra de Jorge Amado. Na versão original, Sonia
Braga já tinha imortalizado a personagem. A mesma Juliana fez muito sucesso na
sua estreia na TV, na novela “Laços de Família”, interpretando Ritinha, a empregada que enlouquecia o patrão
Danilo, vivido pelo galã Alexandre Borges.
Cris Viana também
enlouqueceu o patrãozinho interpretado por Dudu Azevedo em “Duas Caras”. O seu
Barretinho, papel de Dudu, passou grandes percalços até conquistá-la
definitivamente e provar que não queria apenas uma noite de prazer. Abro aqui
um parênteses para destacar a discussão do racismo muito bem inserida neste
contexto. A química entre ambos funcionou muito bem e, em Fina Estampa, em
personagens totalmente opostos, o casal também terminou junto.
Em “Mulheres Apaixonadas”, Roberta Rodrigues
viveu a sensual Zilda, sonho de consumo do jovem Daniel Zettel, que
interpretava o simpático Carlinhos, irmão da vilãzinha Dóris, de Regiane Alves.
Ambos protagonizaram cenas muito quentes depois da explosão da relação, pois
Zilda só provocava o garoto até render-se a ele.
Nesta homenagem às
profissionais do lar, um tipo que não pode faltar neste texto são as empregadas
com características tipicamente cômicas, ou seja, que foram escritas
propositalmente com o intuito de provocar risos. A minha preferida neste grupo
é a Solineuza, vivida por Dira Paes em “A Diarista”. Ao lado da amiga Marinete
(Claudia Rodrigues), ambas viveram momentos inesquecíveis numa série que deixou
saudades. Outra memorável foi a Edileusa,
de Claudia Jimenez, em “Sai de Baixo”. No mesmo humorístico, Sirene (também da
Claudia Rodrigues) e Neide Aparecida (Marcia Cabrita) provocaram muitas
gargalhadas. Tem também a hilária Araci, empregada de Perpétua, na novela
“Tieta”. Sua choradeira em cena era motivo de alegria para mim em casa, pois me
divertia horrores com a interpretação da atriz Andréa Paola.
Por fim, poderia
enumerar aqui outras categorias de empregadas: as prestativas, as confidentes,
as inimigas, as dissimuladas, as submissas, as tresloucadas, as vilãs,as
escravas, as tímidas... São tantas que um artigo só ficaria pequeno para
homenageá-las. Mas o que mais quero dizer é que as empregadas, seja na ficção
ou fora delas, são muito importantes dentro da sociedade. Elas conquistaram com
muita luta o espaço que sempre mereceram ter.
Em muitos casos, são consideradas como
integrantes da própria família tamanha a importância que têm para aquelas pessoas.
Só por isso merecem o nosso respeito e admiração. Particularmente, sempre
gostei da inserção delas nas novelas e acho que as empregadas devem ser cada
vez mais valorizadas pelos autores porque podem ter um papel decisivo numa
trama e por quê não fora delas? Com a voz, nossas empreguetes do Brasil!!!
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3 comentários:
Feliz por ver meu artigo aqui.
Feliz por ver meu artigo aqui.
As empregadas são personagens clássicas que podem ir da alegria das Empreguetes às vilanias de Juliana de O Primo Basílio. Geralmente são vistas mais pelo lado do humor e poucos foram os autores que deram um destaque maior a elas. Nas últimas novelas, essa lacuna está sendo preenchida.
Parabéns pelo texto
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