quinta-feira, 4 de outubro de 2012

AS EMPREGADAS QUE CONQUISTARAM O BRASIL


Blogueiro convidado: André Luis Cia vai além das empreguetes e relembra outras empregadas.

Não é de hoje que as empregadas domésticas são destaque em nossa teledramaturgia. Há quase 50 anos atrás, Rosamaria Murtinho já protagonizou uma novela da TV Excelsior de 1964 chamada “A moça que veio de longe”, no papel de uma empregada. Também merece destaque as empregadas protagonistas de “Sem lenço sem documento”, novela que Mário Prata escreveu em 1977. No entanto, é inegável que elas nunca ganharam tanto destaque quanto estão ganhando agora. Esse assunto já foi tema do melão em um post em parceria com Eddy Fernandes. Mas para celebrar o sucesso das empreguetes de “Cheias de Charme” e também para relembrar outras célebres domésticas, o melão convocou o roteirista e noveleiro André Luis Cia, que recorre à sua memória afetiva, citando suas favoritas. Vamos a elas. 


AS EMPREGADAS QUE CONQUISTARAM O BRASIL

Por André Luís Cia



Coube à dupla Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, estreantes como autores titulares em novelas, a ousadia e o desafio de alçarem ao posto de protagonistas três empregadas domésticas no horário nobre. O tiro que podia ter saído pela culatra foi um grande acerto e a trama de “Cheias de Charme”, que entra em seus últimos dias de exibição foi um dos maiores sucessos da TV Globo na faixa das 19h. A audiência, muitas vezes, chegou a números surpreendentes, próximos ao do folhetim das 21h.

Muito desse sucesso deve-se ao carisma das três atrizes: Taís Araujo (Penha), Leandra Leal (Rosário) e Isabella Drummond (Cida). Todas as três com Maria no primeiro nome, mas conhecidas mesmo pelo segundo. Mulheres brasileiras acima de tudo: no nome e também na personalidade porque apesar das adversidades que passaram nunca perderam o desejo de lutar e de vencer. Talvez por isso tenham conquistado o Brasil e também a crítica televisiva. Na mesma novela, Titina Medeiros, que vive a empregada Socorro também convenceu e ganhou espaço, inclusive, muitas das cenas inesquecíveis de “Cheias de Charme” teve a participação direta ou indireta da atriz.

Depois de muitos anos, o horário das 19h recuperou o prestígio que tinha no passado. Ansioso para que o remake de “Guerra dos Sexos”, que está sendo reescrita também pelo seu titular Silvio de Abreu repita os mesmos números de Cheias de Charme. Não tenho dúvida que conseguirá tal proeza, pois a trama marcou toda uma geração nos anos 80, inclusive a minha.

Mas retornando à Cheias de Charme, tenho que parabenizar o brilhante texto dos autores. Lançar-se no mercado num trabalho solo ainda mais num horário tão competitivo e cobrado não é tarefa para qualquer um. Filipe e Izabel, apesar da experiência de colaboradores em outras novelas, podiam ter decretado suas próprias aposentadorias com esse texto. Ainda bem que o resultado superou qualquer perspectiva e já foi anunciado que a dupla poderá ocupar o posto deixado por Carlos Lombardi em 2013 (que foi para a TV Record), ou seja, garantia de um novo trabalho à vista.

Fico feliz em saber que a TV está abrindo espaço para novos talentos na dramaturgia. Essa abertura de mercado é fundamental para o fortalecimento e renovação do produto telenovela. Como tudo nessa vida, a dramaturgia também pede coisas novas e sangue diferente sempre faz muito bem. Palmas para quem valoriza o novo e se espelha no velho. Essa é a fórmula da vida: unir experiência com juventude porque são os ciclos que movem o mundo e a roda giratória humana.

Antes de Cheias de Charme, outras novelas também tiveram empregadas que se destacaram muito mais do que a sinopse previa. Vale ressaltar aqui que isso aconteceu por  mérito total de suas intérpretes aliado ao olho clínico do autor que percebeu o diamante bruto que tinha em mãos e que só precisava ser lapidado.

 Em “Fina Estampa”, por exemplo, de Aguinaldo Silva, uma dupla de empregados literalmente roubou a cena: o mordomo Crô Valério  e Marilda (Kátia Moraes), brilhantemente interpretado pelos dois conquistaram o público com seus bordões e bom humor. Os momentos mais divertidos da novela foram do núcleo deles. Fizeram tanto sucesso que  Crô e Marilda serão transportados também pelas mãos de Aguinaldo Silva para a telona dos cinemas. Garantia de muita diversão para todos os fãs que ficaram saudosos dessa dobradinha que deu certo.

Há de se destacar ainda que Kátia, ao contrário das protagonistas de Cheias de Charme, estreava na TV. Por esse motivo, todos os méritos devem ser atribuídos à atriz que estreou com os dois pés muito bem fincados na nossa telinha. Tiradas como “anã de jardim”, “pigméia”, “meia porção”, “chaveirinho” e o momento da desforra com Tereza Cristina (a vilã charmosa de Cristiane Torloni) marcaram definitivamente a personagem.


Atualmente, outra empregada rouba a cena em “Avenida Brasil”. Na novela de João Emanuel Carneiro que enfoca a guerra psicológica e a dubiedade entre as protagonistas Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella), toda história é centrada praticamente no núcleo do subúrbio, que acontece no fictício bairro do Divino. Até mesmo as personagens da zona sul estão mudando-se para o local. Mas é na mansão de Tufão (Murílio Benício), que uma empregada ganhou voz e vez: a Zezé (de Cacau Protásio). Apesar de ter feito outras novelas foi somente com sua hilária Zezé, que a atriz teve visibilidade, e assim como a Marilda de Fina Estampa, conquistou mais destaque.

Janaina (Claudia Missura) e Zezé (Cacau Protássio) sucesso ás 21 horas

Bem antes delas, não podemos nos esquecer de outras empregadas cativantes: a Mirna, da atriz Ilva Niño, em “Roque Santeiro”. Sua parceria com Regina Duarte era hilária e marcou época. As duas protagonizaram grandes cenas na fictícia Asa Branca.

Também não podemos deixar de lado as empregadas sensuais da nossa telinha que fizeram subir a temperatura e mexeram com os hormônios masculinos. No momento, Juliana Paes esbanja sensualidade com sua “Gabriela”- título homônimo da novela reescrita por Walcyr Carrasco, baseada na obra de Jorge Amado. Na versão original, Sonia Braga já tinha imortalizado a personagem. A mesma Juliana fez muito sucesso na sua estreia na TV, na novela “Laços de Família”, interpretando  Ritinha, a empregada que enlouquecia o patrão Danilo, vivido pelo galã Alexandre Borges.

Cris Viana também enlouqueceu o patrãozinho interpretado por Dudu Azevedo em “Duas Caras”. O seu Barretinho, papel de Dudu, passou grandes percalços até conquistá-la definitivamente e provar que não queria apenas uma noite de prazer. Abro aqui um parênteses para destacar a discussão do racismo muito bem inserida neste contexto. A química entre ambos funcionou muito bem e, em Fina Estampa, em personagens totalmente opostos, o casal também terminou junto.

Em “Mulheres Apaixonadas”, Roberta Rodrigues viveu a sensual Zilda, sonho de consumo do jovem Daniel Zettel, que interpretava o simpático Carlinhos, irmão da vilãzinha Dóris, de Regiane Alves. Ambos protagonizaram cenas muito quentes depois da explosão da relação, pois Zilda só provocava o garoto até render-se a ele.
Nesta homenagem às profissionais do lar, um tipo que não pode faltar neste texto são as empregadas com características tipicamente cômicas, ou seja, que foram escritas propositalmente com o intuito de provocar risos. A minha preferida neste grupo é a Solineuza, vivida por Dira Paes em “A Diarista”. Ao lado da amiga Marinete (Claudia Rodrigues), ambas viveram momentos inesquecíveis numa série que deixou  saudades. Outra memorável foi a Edileusa, de Claudia Jimenez, em “Sai de Baixo”. No mesmo humorístico, Sirene (também da Claudia Rodrigues) e Neide Aparecida (Marcia Cabrita) provocaram muitas gargalhadas. Tem também a hilária Araci, empregada de Perpétua, na novela “Tieta”. Sua choradeira em cena era motivo de alegria para mim em casa, pois me divertia horrores com a interpretação da atriz Andréa Paola.

Por fim, poderia enumerar aqui outras categorias de empregadas: as prestativas, as confidentes, as inimigas, as dissimuladas, as submissas, as tresloucadas, as vilãs,as escravas, as tímidas... São tantas que um artigo só ficaria pequeno para homenageá-las. Mas o que mais quero dizer é que as empregadas, seja na ficção ou fora delas, são muito importantes dentro da sociedade. Elas conquistaram com muita luta o espaço que sempre mereceram ter.

Em muitos casos, são consideradas como integrantes da própria família tamanha a importância que têm para aquelas pessoas. Só por isso merecem o nosso respeito e admiração. Particularmente, sempre gostei da inserção delas nas novelas e acho que as empregadas devem ser cada vez mais valorizadas pelos autores porque podem ter um papel decisivo numa trama e por quê não fora delas? Com a voz, nossas empreguetes do Brasil!!!     

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LEIA TAMBÉM: 

Série Memória Afetiva: AS EMPREGADAS FAVORITAS DA FICÇÃO.



Titina Medeiros: a “brabuleta-revelação” de Cheias de Charme






3 comentários:

André Luís Cia disse...

Feliz por ver meu artigo aqui.

André Luís Cia disse...

Feliz por ver meu artigo aqui.

Walter de Azevedo disse...

As empregadas são personagens clássicas que podem ir da alegria das Empreguetes às vilanias de Juliana de O Primo Basílio. Geralmente são vistas mais pelo lado do humor e poucos foram os autores que deram um destaque maior a elas. Nas últimas novelas, essa lacuna está sendo preenchida.
Parabéns pelo texto

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