quinta-feira, 29 de março de 2012

Avenida Brasil: um conto de fadas pós-moderno.



Foi-se o tempo em que a Branca de Neve precisava de um príncipe para salvá-la das maldades de sua madrasta má. A Branca de Neve do século XXI levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima. Vai à luta para recuperar o que perdeu e se vingar daqueles que fizeram mal a ela. Nesse início da nova novela das nove, “Avenida Brasil”, e a julgar pelas informações que temos do que virá pela frente, é impossível não fazer alusão ao famoso conto de fadas dos Irmãos Grimm. Só que, ao invés do Reino Encantado, o universo da trama é a movimentada e pulsante Avenida Brasil, que corta os principais bairros do subúrbio carioca.

Rita (Mel Maia) e Carminha (Adriana Esteves) em excelentes atuações

Assim como no conto de fadas, a menina Rita (Mel Maia, um escândalo de talento) é vítima da maldade de sua madrasta, a terrível Carminha (Adriana Esteves com o diabo no corpo), que dá o golpe no pai da menina (Tony Ramos, genial como sempre) e, após se apropriar do dinheiro dele, pede ao “fiel caçador”, digo, ao comparsa Max (Marcello Novaes), que abandone a menina em um lixão. Assim como a floresta do conto de fadas, o lixão da novela é um lugar cheio de perigos, com direito a velho do saco e tudo (outra lenda que aterrorizava as criancinhas). No lugar dos sete anões, Rita será amparada pela personagem de Vera Holtz. A menina cresce disposta a acertar as contas com sua rival. A partir daí, só mesmo o autor João Emanuel Carneiro e sua inspirada equipe poderão nos surpreender com situações pra lá de eletrizantes, assim como foram os primeiros capítulos da trama, que não deixaram ninguém desgrudar os olhos da telinha da tevê e da tela do computador, já que todos os Trending Topics do Twitter eram sobre a novela.

João Emanuel Carneiro não tem o estilo operístico de um Aguinaldo Silva, tampouco o naturalismo de um Manoel Carlos. Seus personagens também não possuem a dimensão humana dos personagens dos folhetins de Gilberto Braga, em que as vilãs, muitas vezes, ganham a simpatia do público, que enxerga nas atitudes delas muitas de suas próprias atitudes. No entanto, João Emanuel Carneiro tem se mostrado mestre em conduzir tramas emocionantes cheias de reviravoltas e vilões capazes de tudo para atingirem seus objetivos sem demonstrarem remorso algum, como foi o caso da psicopata Flora, célebre personagem de Patricia Pillar em “A Favorita”. Ao que tudo indica, a Carminha de Adriana Esteves vai pelo mesmo caminho, sempre com diálogos inspirados e um jeitão debochado e irônico que faz com que o público vá ao delírio. Já estamos com medo da maçã envenenada que esta madrasta má está a preparar para sua enteada, que na segunda fase vai ser vivida por Debora Falabella.

Debora Falabella, que viverá a heroína na segunda fase da trama

Enfim, as tramas de João Emanuel Carneiro nunca me remetem à realidade, mas sim a uma deliciosa fábula reinventada em que príncipes encantados dão lugar a tipos bem populares como jogadores de futebol, que são os heróis da atualidade, como são os personagens dos protagonistas masculinos vividos por Murilo Benício e Cauã Reymond. A doçura e a inocência dos contos de fadas tradicionais dão lugar a um clima sombrio, assustador, de permanente tensão, em que os heróis são capazes de atitudes tão condenáveis quanto às atitudes dos vilões. Por isso, prevejo muita emoção e tensão pelos próximos meses, principalmente quando a Branca de Neve em questão decidir tomar as rédeas de sua vida e partir para sua terrível vingança. A madrasta má que se cuide... 

sexta-feira, 23 de março de 2012

E o melão de papel chegou!!!



Foi uma noite memorável! Sucesso absoluto define o lançamento de “Eu prefiro melão – melhores momentos de um blog televisivo” na noite do dia 21 em Ipanema.
Não tenho palavras para agradecer tanto carinho que recebi dos amigos que foram me prestigiar. Por isso, de coração, agradeço a TODOS. As palavras não são suficientes para expressar minha alegria e minha gratidão, mas as imagens falam por si. Por isso, segue um momento “Fatos e Fotos” do melão. Uma noite que jamais esquecerei!

À medida em que as fotos forem chegando, vou atualizando o post.


A matéria do Video Show ficou linda! Obrigado, Rosamaria Murtinho, Fernanda Rodrigues, Bel Kutner, Katia Moraes e Nica Bomfim pelos lindos depoimentos:
http://globotv.globo.com/rede-globo/video-show/v/video-show-news-partida-beneficente-premio-zilka-salaberry-e-eu-prefiro-melao/1878300/


E o livro já está à venda em algumas livrarias virtuais. Mais informações no site da Navilouca Livros: www.navilouca.com

Recebendo o carinho de mamãe
Amigos queridos de todas as horas: Raphael, Luizinho, Fellipe e Lê
Visão panorâmica

Lindos e loiros!
Com Tarcísio Lara Puiati, meu querido companheiro de trabalho em "O astro"

Rodrigo Mendonça, querido amigo que brilhou em "O astro" como o malandro Ubiraci
Queridíssima Bel Kutner, esbanjando charme e simpatia.
Fernandinha "linda" Rodrigues. Como não amar?

Entre duas divas: minha mammy Angela e a Super Rosamaria Murtinho!
Grande Max Mallmann, de "A Grande Família" para o melão!
Queridas Ana Quintana e Leandra Lopez, produtora e atriz de "Aquele Beijo"

Querida Katia Moraes, que está arrasando em "Fina Estampa"
Reunião de talentos: acima Nica Bomfim e Eduardo Nassife; abaixo Maria Clara Mattos, Marina Tourinho e Bel Kutner

Sorriso lindo da roteirista Luciana Pessanha, que vai arrasar em "Avenida Brasil"
Nilson Xavier, que cedeu sua "orelha" para o melão 
Thalita Carauta também prefere melão!

Equipe Navilouca! 
Algumas palavrinhas para o Video Show

Tia Magda também prefere melão! Dá-lhe Rosamaria!
Três mocinhos elegantes: Nilson "teledramaturgia" Xavier e Rapha  "Video Show" Machado

Felipe Ribeiro, criador de toda a identidade visual do melão! 
Cacá não podia faltar, afinal é sempre o primeiro a degustar os textos do melão.
Enfim, mais tantos amigos... se postasse as fotos de todo mundo que foi, o post não acabava mais. Mas sintam-se TODOS representados. Amo vocês!





E o melão também deu o que falar nos principais sites de entretenimento:



Enfim, missão cumprida! 
Mil obrigados à querida amiga Graziella Batista, da MPIX Produções, pela cessão de algumas fotografias que ilustram esse post.
A todos, beijos com gostinho de melão!

domingo, 18 de março de 2012

Melão de papel vem aí...


Queridos leitores,
Finalmente vou lançar meu livro esse mês e ficarei honradíssimo com a presença de todos vocês! 


"Eu prefiro melão - Melhores Momentos de um blog televisivo" é uma coletânea de textos publicados em meu blog www.euprefiromelao.blogspot.com nesses quase três anos de existência. O título do blog é inspirado na célebre frase de Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) em "Meu bem meu mal", novela de Cassiano Gabus Mendes, de 1990.

O livro conta com o prefácio de nosso querido Alcides Nogueira, de quem fui colaborador em "O astro". O texto da orelha é do amigo Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira e criador do site www.teledramaturgia.com.br. O depoimento da contracapa é da super Betty Faria, amiga querida e musa absoluta do blog. Nunca é demais agradecer também ao talentosíssimo Felipe Ribeiro, responsável pela identidade visual do blog e que também criou uma linda capa para o livro!

Nesses quase três anos de existência, o melão só me deu alegrias. Quando criei o blog pensei em abrir um canal de comunicação com o público noveleiro assim como eu, mas jamais pensei que fosse fazer tanto sucesso e ser visitado de todas as partes do mundo. No entanto, a proposta inicial do blog se manteve, que são textos mais informais, evocando nossa memória afetiva e discutindo temas relevantes, mas sempre mais do ponto de vista do espectador do que do crítico ou do profissional de roteiro. E principalmente: a liberdade para falar do que quiser, entrevistar apenas pessoas que admiro e convidar meus amigos a compartilharem seus textos com os leitores, ou seja, um cantinho de amigos que compartilham das mesmas afinidades. Acredito que isso é que faz do melão um espaço único e de personalidade própria.

Quando fui convidado pela Navilouca Livros para escrever a versão impressa do blog, vi a oportunidade de eternizar alguns textos que acabariam por se perder no vasto ciberespaço virtual. Mergulhar nos arquivos do melão para selecionar os textos que iriam compor o livro foi uma viagem afetiva e divertida. O resultado ficou bem bacana e coerente. Espero que todos gostem e possam levar um pouquinho do melão pra casa.

A noite de autógrafos será no próximo dia 21/03, às 21:30 no Galeria Café, em Ipanema. 

Após o coquetel, festa X-Tudo às 23 horas no mesmo local, ou seja, pra quem for baladeiro, programa completo! Quem for ou estiver no Rio não pode perder.

Espero todo mundo lá para uma noite que promete, além de celebrar o sucesso do blog, ser um grande e feliz encontro de amigos que preferem melão.

Segue abaixo release do livro! Cariocas, venham!!!!


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RELEASE DE DIVULGAÇÃO DO LIVRO EU PREFIRO MELÃO – MELHORES MOMENTOS DE UM BLOG TELEVISIVO, DE VITOR DE OLIVEIRA
Após o reconhecimento como um dos mais acessados e respeitados blogs que abordam a história e a atualidade das novelas brasileiras, o Eu Prefiro Melão agora virou livro! Em Eu prefiro melão – Melhores momentos de um blog televisivo, Vitor de Oliveira apresenta um coletânea de textos marcantes e informativos, que despertam as lembranças mais agradáveis de grandes clássicos como “Roque Santeiro”, “Vale Tudo” e “Tieta”.
As personagens inesquecíveis não ficaram de fora. Vilãs como Maria de Fátima, Odete Roitman, Laurinha Figueiroa, Nazaré Tedesco e muitas outras arrepiaram milhões de telespectadores e povoam até hoje o imaginário popular. E o que dizer das helenas de Manoel Carlos? Vitor brincou com seus leitores e, em conjunto, elegeram a mais marcante de todas.
Eu prefiro melão – Melhores momentos de um blog televisivo reúne críticas e opiniões de quem vive no mundo das novelas: Vitor é roteirista e colaborou no recente remake de “O Astro”. O respeito conquistado por seus comentários no mundo virtual agora ficará registrado para sempre em nossa literatura em mais um lançamento da Navilouca Livros.
“Vitor tem uma memória incrível, faz questão de pesquisar e ‘desenterrar’ pérolas... É um puro deleite acessar o Eu prefiro melão e conhecer muito da história da nossa sessentona (e cada vez mais jovem) teledramaturgia.” – Alcides Nogueira
EU PREFIRO MELÃO – MELHORES MOMENTOS DE UM BLOG TELEVISIVO, de Vitor de Oliveira
138 páginas
Gênero: Crônicas
Formato: 14x21cm
Preço: R$ 28,00
ISBN: 978-85-65114-06-6
Disponível para compra nas melhores livrarias virtuais a partir de 21 de março de 2012
“Que bom ver um jovem com tanto conhecimento de teledramaturgia brasileira.” – Betty Faria


segunda-feira, 12 de março de 2012

“Barriga de Aluguel” e “Fina Estampa”: mesmo tema, enredos diferentes.





Há mais de duas décadas atrás, Gloria Perez, sempre visionária, apresentou uma sinopse que abordava um assunto novíssimo na época: barriga de aluguel. Devido à modernidade do tema, a novela só iria ao ar há uns anos depois, em 1990, ainda com ares de novidade e o dilema em torno de quem é a verdadeira mãe de Carlinhos/Junior parou o Brasil: a mãe biológica Ana (Cassia Kiss) ou a mãe que gerou a criança Clara (Claudia Abreu)? Na época, Gloria contou com a ajuda de uma juíza de verdade, a Dra. Ana Maria Scartezzini, que deu o veredito em favor de Ana, contrariando a opinião popular.

Mais de vinte anos depois, o mesmo tema volta à tona em uma trama do horário nobre na novela “Fina Estampa” e, coincidentemente, “Barriga de Aluguel” tem sua reprise exibida no Canal Viva. É um tema antiquíssimo, bíblico, diga-se de passagem, e não estou aqui falando do procedimento de barriga de aluguel propriamente dito, que não é o caso da novela das nove, mas de duas mães que reivindicam a maternidade de uma criança. Ao contrário do Rei Salomão, que decidiu cortar a criança em duas partes, nossos intrépidos autores vão mais fundo nessa questão e avaliam a situação de todas as óticas possíveis para chegar ao desfecho.

Em “Fina Estampa”, não se trata de uma barriga de aluguel, mas de uma inseminação artificial feita por Esther (Julia Lemmertz), no consultório da Dra. Danielle Fraser (Renata Sorrah). O que Esther não sabia, no entanto, é que o óvulo fecundado era da cunhada da médica, Beatriz (Monique Alfradique) e o espermatozoide de seu irmão falecido. O segredo foi revelado por Glória (Monica Carvalho), secretária da médica, o que desencadeou todo o dilema.

Muito mais do que reproduzir uma situação de uma novela de 20 anos atrás, Aguinaldo Silva mostrou que o tema não é fechado e pode apresentar novos desdobramentos e situações diferentes. Se na novela de 1990, ficou claro que a mãe biológica era a que tinha direito à guarda da criança, será que o mesmo veredito pode ser aplicado na novela atual, já que não houve nenhum acordo firmado entre Esther e Beatriz e ambas sequer sabiam da existência uma da outra?

Do ponto de vista ético, “Fina Estampa” também revela modificações na sociedade entre uma novela e outra. Se em 1990, Dr. Baroni (Adriano Reys) foi acusado de antiético por simplesmente ser o responsável pelo procedimento de barriga de aluguel com o consentimento de ambas as mulheres, o que dizer de Dra. Daniele, que premeditou toda a situação e escondeu seu ato de todos, movida pelo desejo de ver um sobrinho seu vindo ao mundo? Dessa vez, qual das mães tem direito à criança? Esther ou Beatriz? Como se vê o tema não é tão simples assim e, a exemplo de “Barriga de Aluguel”, não há uma solução fácil e o final sempre pode ficar em aberto.

A sequência final de “Barriga de Aluguel”, (um dos melhores e mais bonitos finais de novela em minha opinião) mostra o encontro das duas mães e Ana, mesmo com a guarda da criança, propõe a Clara que elas entrem em um acordo e busquem uma solução juntas. A cena da criança caminhando de mãos dadas com as duas mães é sublime e antológica.
Não sabemos qual será o desfecho da trama de “Fina Estampa”, que termina esse mês. O fato é que a dramaturgia é tão rica e está sempre de olho nas modificações pelas quais passa nossa sociedade, que um mesmo tema pode ser recontado de diferentes formas com igual frescor e criatividade. Salve nossa teledramaturgia! 



quarta-feira, 7 de março de 2012

DEU A LOUCA NAS NOVELAS – EDIÇÃO 2



Lembram daquele divertido post de Júnior Sousa propondo um troca-troca de autores das novelas “Cama de gato”, Caras e Bocas” e “Viver a Vida”? Pois ele está de volta propondo mais uma brincadeira, só que com as novelas “A vida da Gente”, “Aquele beijo” e “Fina Estampa”. Com uma imaginação fértil, Juninho, que é professor e roteirista, nos brinda com mais uma edição dessa brincadeira. O que aconteceria se Lícia Manzo, Miguel Falabella e Aguinaldo Silva assumissem um a novela do outro com seus respectivos estilos? Eis a resposta:


A VIDA DA GENTE - escrita por Aguinaldo Silva

Ana se revolta quando vê Rodrigo com Manuela e parte pra cima da irmã no meio da rua. Alice é convidada para ser uma dançarina de grupo de pagode e esconde isso dos pais. A polícia leva Manuela e Ana para a delegacia. Manuela envenena Júlia contra Ana. Iná ensaia um Grupo da Melhor Idade para o Grupo de Carnaval de Gramado. Ana planeja roubar Júlia e fugir com a filha. Eva diz a Ana que no dia de seu parto, colocou uma peruca loira, trocou os bebês na maternidade e que sua verdadeira filha está com uma família desconhecida.

AQUELE BEIJO - escrita por Lícia Manzo

Maruschka entra em depressão por causa de Alberto, não come, não dorme, não vai para a Comprare. Belezinha descobre que tem leucemia e a mãe lhe aconselha a não contar para Agenor. Cláudia sofre um acidente de moto e perde a memória. Lucena comemora. Rubinho e Vicente se compadecem por Cláudia. Belezinha, leucêmica, esconde a gravidez da mãe. Grace Kelly reflete sua vida com Eveva. Todos se unem para ajudar Cláudia a "recomeçar". Quatro anos depois, Cláudia recobra a memória e entende que é casada com Vicente para desespero de Rubinho.

FINA ESTAMPA - escrita por Miguel Falabella

Tereza Cristina ameaça Griselda, mas não passa disso. Teodora ameaça Griselda, mas não passa disso. Crô é hostilizado na rua e dá uma lição de moral filosófica em todos. Tereza Cristina se apaixona por Pereirinha e esquece as maldades (Miguel Falabella narra a redenção da personagem dizendo que na vida todo mundo tem uma chance para se regenerar ).  Solange vence a eliminatória do concurso Miss Jardim Oceânico para a alegria de Celeste. Com medo de hackearem sua fortuna, Griselda retira todo seu dinheiro do banco, guarda numa mala dourada, mas a mala some misteriosamente e todos querem achá-la.


E então, gostaram? Obrigado, Juninho! Volte sempre que quiser aqui no melão!

Junior Sousa e eu
LEIA TAMBÉM:

Blogueiros convidados: Júnior de Souza e Fernando Shimada!


sábado, 25 de fevereiro de 2012

CORAÇÃO DE ESTUDANTE – Minas para o Brasil

Por Wesley Vieira - diretamente de Minas Gerais
O “tempo tempo tempo tempo...” como diz a música de Caetano Veloso entoada na atual novela das seis na voz de Maria Gadu, passa rápido demais e nem parece, mas há exatos 10 anos atrás, o horário das seis nos brindava com uma trama simples, simpática, alegre e emocionante: “Coração de Estudante”, novela escrita por Emanuel Jacobina com com a colaboração de Cristianne Fridman, Max Mallmann, Nelson Nadotti e Júlio Fischer e direção de Ricardo Waddington. Uma delícia de história que retratou Minas do jeito que ela realmente é (palavra de um autêntico mineiro!).

“Coração de Estudante” é especial para mim, não somente pela deliciosa história, mas também porque coincidentemente em 2002, passei o carnaval em Ouro Preto, paraíso para estudantes, e então pude constatar como é viver numa república de estudantes. As bagunças e farras são reais e insanas. Só quem viveu, conheceu ou passou por isso, sabe como é ter esse verdadeiro coração de estudante.

Obviamente, “Coração de Estudante” falava do universo estudantil durante as suas duras jornadas no mundo acadêmico em meio aos dramas, angustias e, claro, muitos romances e humor tendo as cidades históricas do interior de Minas Gerais como cenário. A novela foi extremamente feliz ao retratar com exatidão aquele clima e segundo o Guia Ilustrado da TV Globo, uma declaração de amor a nós, mineiros. Posso ir mais além e dizer que a novela também foi uma homenagem aos estudantes. Por que não?

A fictícia cidade de Nova Aliança ficava pertinho de Ouro Preto e era pra lá que o mocinho, o professor de biologia Edu, vivido por Fábio Assunção, ia lecionar na UENA (Universidade Estadual de Nova Aliança), levando Lipe (Pedro Malta), seu filho, fruto de um relacionamento com a alcoólatra Mariana (Carolina Kasting). Edu é noivo da mimada e chiliquenta Amelinha (Adriana Esteves), filha do poderoso João Mourão (Claúdio Marzo). Idealista como só, o professor se assusta ao descobrir que praticamente toda a cidade pertence ao sogro.

Como bom folhetim que se preza, Edu não amava Amelinha e foi se apaixonar justamente pela linda advogada Clara (Helena Ranaldi), que mais tarde descobre ser filha de João, seu maior opositor. Portanto as duas rivais são... irmãs (que descoberta!).
 
Apaixonado por Amelinha, que o fazia de gato e sapato, Nélio (Vladimir Brichta) era um peão rude e rabugento no início da novela. Com as mudanças provocadas no texto em virtude da consultoria de Carlos Lombardi que fora convocado para aumentar a audiência, o rapaz se tornou o divertido “bejeto sexual” das mulheres largado à própria sorte. Praticamente todas as fêmeas da cidade de Nova Aliança passaram pela mão do peão que só queria o amor de Amelinha. Aos poucos, a mimadinha descobriu que realmente era louca pelo peão boboca.
Foi a partir dessa fase que “Coração de Estudante” cativou de vez os telespectadores. A chegada de Pedro Guerra (Bruno Garcia) também movimentou a história. O promotor público - adepto de diálogos espirituosos, bem humorados e inteligentes - se tornou rival de Edu na disputa pelo amor de Clara e por pouco não fisgou o coração da mocinha.
Romances à parte, o relacionamento de pai e filho entre Edu e Lipe foi emocionante. E “Coração de Estudante” também tratava de assuntos sérios como a preservação ao meio ambiente (João Mourão queria construir uma hidrelétrica em terras que ficavam na divisa com a Universidade), a síndrome de Down (Amelinha fingia estar grávida de Edu, conseguia se casar com ele e descobria-se que o bebê, na verdade filho de Nélio, teria a Down) e o alcoolismo (Depois de ter abandonado o filho, Mariana chega à cidade causando problemas por conta de seus antigos vícios).

A trama contava com duas autênticas repúblicas de estudantes, palco para as aventuras e farras juvenis. Na Três Corações - só para moçoilas - estavam Rosana, mãe solteira de um bebê (papel de estréia de Alinne Moraes) e Rafaela (Julia Feldens), jovem de origem humilde lutando para continuar os estudos e tentando fugir daquele eterno clima de festa. Já na República Bananeiras, até as paredes exalavam hormônios masculinos. Era lá que o paulista Fábio (Paulo Vilhena estreando em novelas) ia sofrer como “bicho” nas mãos de veteranos como o conquistador Baú (Claúdio Heinrich) e Cardosinho (Betito Tavares).

E as trilhas? Não poderia deixar de falar sobre elas. A nacional transpirava mineiridade. Muitos cantores mineiros deram o ar de sua graça. Era lindo ver canções como “Paisagem na Janela” na voz de Lô Borges ilustrando as maravilhosas montanhas de Minas. O pop-rock do Pato Fu com “Menti pra você, mas foi sem querer” representava os estudantes. Ana Carolina cantava “Confesso” para Amelinha. Milton Nascimento surgia em dose dupla com “Änïmä" e "Angelus". 14 Bis e Samuel Rosa com "Bola de Meia, Bola de Gude" deixavam as cenas entre Edu e Lipe mais bonitas. A abertura ficou a cargo de Beto Guedes com a envolvente “Maria Solidária”.

A trilha internacional já foi mencionada em outro post de minha autoria aqui no Melão. Excelente! Sem dúvida, uma das minhas preferidas. Só a presença da balada “Wherever You Will Go" do The Calling já merece menção honrosa.

“Coração de Estudante” terminou no dia 27 de setembro de 2002 e foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo em novembro de 2007. Uma novela deliciosa que sempre vale a pena ver e rever...



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quando o vilão são as circunstâncias


Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manuela (Marjorie Estiano) dividindo opiniões em "A vida da Gente"

Independente de números de audiência sempre ingratos para o horário das seis, principalmente em época de horário de verão, “A vida da gente” vem tendo uma enorme repercussão desde seu início, causando verdadeiro frisson nas redes sociais durante sua exibição e promovendo um constante fórum de discussão digno de novela de horário nobre. Muito dessa repercussão se deve ao seu mote fortíssimo, no qual os papéis dramáticos aos quais estamos tão acostumados, não estão claramente delineados. Como bem já apontaram Patricia Kogut  e Nilson Xavier em seus respectivos artigos, “A vida da gente” é uma novela sem vilões. Não se trata do eterno (e muitas vezes cansativo) embate entre o bem e o mal. Mas como uma novela consegue manter a ação constante e os conflitos sem que tenha um grande agente provocador?

O fato de não existir esse personagem capaz de alterar os rumos da trama não significa que essa trama não seja alterada. O grande vilão de “A vida da gente” são as circunstâncias que fizeram com que a protagonista Ana (Fernanda Vasconcellos) ficasse em coma por quatro anos e quando despertasse, percebesse que o grande amor de sua vida, Rodrigo (Rafael Cardoso), está casado com sua irmã Manuela (Marjorie Estiano), criando com ela a sua filha Julia (Jesuela Moro). Para Ana, é como se ela tivesse dormido em um dia e acordado no outro, mas nesse longo período, o amor entre Manuela e Rodrigo foi aflorando e se construindo aos poucos, sem que se dessem conta. Ou seja, os três são as vítimas do destino e do “tempo, tempo, tempo, tempo” e sua ação transformadora. E antes que alguém argumente que a mãe das moças, a problemática Eva (Ana Beatriz Nogueira) ou a obsessiva treinadora Vitória (Gisele Fróes) possuem a má índole necessária para serem consideradas vilãs, discordo em considerá-las como tal. Além de serem personagens pra lá de complexas, com qualidades e (muitos) defeitos, não se mede um vilão pelo grau de maldade do personagem, mas por sua atuação negativa e efetiva na vida do protagonista. E ambas as personagens não possuem força suficiente para tal.

Camila (Carolina Dieckmann) em cena marcante de "Laços de Família"

Hoje em dia o público está muito acostumado com essa dualidade bem X mal, mas a história da telenovela já provou que é possível sim criar tramas impactantes e envolventes sem que haja esse embate entre bons e maus. Manoel Carlos é mestre em provocar emoções e gerar discussões que vão além desse simplismo. Em “Laços de Família” (2000), por exemplo, a grande vilã era a leucemia que acometeu a jovem Camila (Carolina Dieckmann) e desencadeou vários conflitos passados e presentes, obrigou a mãe Helena (Vera Fischer) a revelar quem era seu verdadeiro pai, Pedro (José Mayer) a obrigando a se envolver novamente com ele para engravidar e tentar salvar a filha. Lógico que essa reaproximação gerou a maioria dos conflitos  da novela. Em “Viver a Vida”, também de Maneco, o vilão foi o acidente sofrido por Luciana (Alinne Moraes) que a tornou tetraplégica e transformou a vida de todos a sua volta.

Lucinha (Betty Faria) e Carlão (Francisco Cuoco) em "Pecado capital"

Um exemplo das antigas é a clássica “Pecado capital” (1975), de Janete Clair, mestra desde sempre a criar mocinhos que fogem ao modelo de perfeição, ao contrário do que muitos acreditam como, por exemplo, Cristiano Vilhena de “Selva de Pedra” ou Herculano Quintanilha de “O astro”. Em “Pecado Capital” temos um bom exemplo dessa ausência de maniqueísmo. Na saga de Carlão (Francisco Cuoco) que acha uma mala cheia de dinheiro em seu táxi, não há nenhum personagem com mais força para desestabilizar seu mundo do que sua própria ambição, que o fez perder seu grande amor Lucinha (Betty Faria) para o empresário Salviano (Lima Duarte) e ainda lhe custou a própria vida.

Costuireiros rivais de "Ti Ti Ti"
Na primeira versão de “Ti Ti Ti” (1985), também não havia vilão. A trama era focada na rivalidade entre os costureiros Jacques L’eclair (Reginaldo Faria) e Victor Valentim (Luiz Gustavo).  Embora a trama de Cassiano Gabus Mendes nos criasse a tendência a torcer mais pelo elo mais fraco dessa batalha, no caso, Valentim, seu oponente não era necessariamente um vilão. Ao contrário, dois anti-heróis maravilhosamente construídos em que o grande mote não era o bem vencer o mal, mas até onde iria essa batalha com ares cômicos e épicos.

Ana (Cassia Kiss) e Clara (Claudia Abreu)

Em “Barriga de Aluguel” (1990), reprisada atualmente pelo Canal Viva, também não há um antagonista criando mil planos diabólicos para derrotar os mocinhos. Aqui a autora Gloria Perez introduziu um mote tão polêmico quanto rico ao questionar sobre a verdadeira maternidade de uma criança: quem doou o óvulo ou quem a gerou? Os argumentos foram apresentados no decorrer da novela e o público refletia sobre quem tinha direito à criança. Não houve uma resposta pronta e nem uma solução fácil, como a própria vida.

Portanto, mesmo que não seja uma novidade a ausência de vilania em “A vida da gente”, ela é extremamente bem vinda nesse atual momento de nossa teledramaturgia em que o telespectador, muitas vezes, não é levado a pensar, nem provocado com temas realmente relevantes. Não há uma resposta sobre quem tem razão, Ana ou Manuela. Ambas têm suas motivações, ambas foram vítimas das circunstâncias e é justamente isso que vem causando tamanha comoção por parte do público, bem como torcidas acaloradas para as duas. A autora Lícia Manzo e sua equipe estão sabendo desenrolar com maestria, a cada capítulo, novos fios de um novelo que está longe de ser facilmente desembaraçado. Nesse emaranhado, nada é simples ou raso e tudo pode mudar de acordo com o ponto de vista. Assim como a vida da gente.

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LEIA TAMBÉM:

Melão Express: Rapidinhas, mas saborosas – ed. 17






domingo, 5 de fevereiro de 2012

Blogueiro convidado: FABIO DIAS elogia “FINA ESTAMPA”




 Mais um convidado especialíssimo de fina estampa no melão. E esse vai dar o que falar. Diretamente do criativo blog parceiro do melão “O cabide Fala” (clique aqui para conhecer), Fabio Dias não titubeou quando lhe informei que estaria livre para falar sobre o que bem quisesse. Não se fez de rogado: criou esse verdadeiro dossiê ressaltando as qualidades de “Fina Estampa”, atual sucesso de Aguinaldo Silva, novela que vem batendo recordes de audiência, dividindo opiniões e causando verdadeiro furor nas redes sociais, que praticamente param para comentar a novela, seja para o bem ou para o mal. De qualquer forma, “Fina Estampa” está longe de passar despercebida e Fabio apresenta suas razões para acompanha-la. Melão agradece ao dono do Cabide e o convida a voltar sempre que quiser. Melão é seu, querido!

  
FINA ESTAMPA segue divertindo o Brasil!

Por Fabio Dias

Se tem uma coisa que mexe e acaba envolvendo todos, é  uma novela do horário nobre global. Mas ultimamente o horário estava decadente  até surgir com sua simplicidade e despretensão FINA ESTAMPA. A trama segue batendo recordes de audiência, mas divide opiniões. Alguns dos noveleiros mais exigentes a julgam como uma estória simples e banal. Outros a apontam que é dirigida para a “Classe C”. Mas será que faz sucesso somente nessa classe?



A verdade é que Fina Estampa está na boca do povo, o que era seu objetivo desde o início: ser uma história popular. Onde quer que eu passe, lá está alguém comentando sobre a novela, como há muito tempo eu não ouvia. Eu a vejo assiduamente, me divirto e me emociono sempre. Acredito que acompanhar uma novela, seja ela qual for, sem realmente estar sintonizado apenas nela, você não pega a essência e não se envolve com a trama muito menos com os personagens. Hoje em dia com o advento da internet, o Twitter tornou-se o encontro dos noveleiros, onde a maioria acompanha comentando.

E o porquê de tanto sucesso?

Após tantas novelas dramáticas e pesadas no horário o público se depara com uma trama leve, simples, desde o inicio envolvente, com texto afiado e ágil. Na terceira semana ela já teve uma reviravolta. Antenor (Caio Castro) foi desmascarado. Fina Estampa também tem alguns elementos populares que estão na mídia no momento como UFC e o Funk, tem o bom e velho drama com uma mulher batalhadora, uma vilã ardilosa e personagens cômicos como o Crodoaldo Valério. Ela também investe em uma tema inédito até então, a fertilização in vitro que começa a ganhar força na trama a partir de agora. Em meio às qualidades, muitos afirmam que é surreal, mas novela é ficção, não tem compromisso com a realidade.



Porém faço uma ressalva para algumas cenas que abusaram do surrealismo: Amália sofre um acidente, o carro capota várias vezes e ainda descobre que está grávida sem nenhum arranhão? Fred, o suposto amante de Crô, após uma tropeçar na escada morre? É muito comentada a volta da Marcela, após ser assassinada duas vezes, mas nesse caso é melhor aguardar as surpresas que o autor nos reserva. A novela ainda não acabou. Eu ri muito com a cena de Teresa Cristina encontrando a suposta Marcela no cemitério e ainda após o desmaio, acorda acreditando que morreu! A verdade é que gostando ou não, os brasileiros estão diariamente se divertindo com a trama surreal e caricata. O sucesso confirma essa tese.

Audiência é sinônimo de qualidade?

Há quem diga ainda que audiência não é sinônimo de qualidade. Uma simples opinião pessoal e mínima entre os milhões de telespectadores que acompanham a trama. Se formos por esse quesito, obras como A Próxima Vítima, Vale Tudo, Renascer entre outros sucessos não tiveram qualidade? Aguinaldo Silva em seu portal defendeu bem essa questão que é diariamente verbalizada nas redes sociais:


“Quando uma novela, em termos de audiência, dá dez vezes mais que a emissora segunda colocada, bom… Há ou não há que respeitá-la? Pois não existe argumento mais furado que este segundo o qual audiência não é sinônimo da qualidade… Já que estamos falando de televisão aberta, e nesta o que conta é a audiência – ela tem que ir aos píncaros ou os salários atrasam. O que as emissoras abertas de televisão buscam é audiência – a maior possível: esta, segundo os critérios delas, é que é o sinônimo de qualidade.”



As declarações de Aguinaldo sempre causam burburinho nas redes sociais. A “versão” virtual do autor é ácida, convencida e para muitos, arrogante. Engano total, Aguinaldo Silva pessoalmente é calmo, tímido e muito diferente do que possa parecer. Um jovem senhor de Fina Estampa.

Falando em audiência, Fina Estampa se consolida como a maior audiência da Globo nos últimos 5 anos. Confira seu gráfico, comparando com sua antecessora Insensato Coração nos seis primeiros meses.



  
E aí? Em tempo onde a internet e outras mídias têm mais força, uma novela reconquista o hábito da maioria dos telespectadores em acompanhá-la, merece ou não ser respeitada? Agora opinião e gosto são particulares de cada um.

Melão e Cabide bebendo da mesma fonte
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