sábado, 10 de julho de 2010

Entrevista especial: DUCA RACHID E THELMA GUEDES


Entrevistadas por Wesley Vieira e Vitor de Oliveira


Para a difícil, mas prazerosa função de entrevistar uma dupla de sucesso, nada melhor do que convocar um amigo de talento com as mesmas pretensões e que sempre está na mesma sintonia que eu: Wesley Vieira. O rapaz se diz um aspirante a roteirista, mas quem leu seus textos comprova que ele já está pronto para que alguma emissora invista em seu potencial. Nossa sintonia foi perfeita e harmônica desde o início de nossa amizade virtual, que já se tornou real.

Ninguém melhor que Wesley, com sua simpatia, inteligência e perspicácia para ser meu parceiro nessa tarefa de entrevistar as duas meninas, Duca e Thelma, que responderam às nossas perguntas juntas e separadas.


Autoras de dois grandes sucessos do horário das seis, “O profeta” (2006) e “Cama de Gato” (2009), as duas contam que a dupla foi unida por Walcyr Carrasco, além de relatarem suas experiências conjuntas e individuais, bem como o processo criativo, o futuro da telenovela, entre outros assuntos. Um tricô delicioso e envolvente. Confiram:

 
DUCA RACHID


Conte como foi o início de sua carreira? Você sempre quis trabalhar como roteirista de televisão? Encontrou dificuldades para entrar nesse mercado que é tão disputado e fechado? (Wesley)

DUCA - Eu sempre fui noveleira, desde criança. A minha geração cresceu vendo novela. Pra mim, uma jovem que vivia na periferia de São Paulo, onde não havia cinema nem teatro, a TV e os livros eram a minha janela para o mundo. Mas lembro de ter manifestado o desejo de fazer TV, vendo “Gabriela” do Walther Durst. Já tinha lido o livro e ver aquilo na TV foi quase que uma epifania! Fiz um caminho bastante tortuoso para chegar aqui. Durante a faculdade de jornalismo, montei uma produtora de vídeo com colegas, fiz institucionais e gravei até casamentos! Mas só comecei a trabalhar mesmo como roteirista em Portugal, onde morei por seis anos. Lá conheci um roteirista brasileiro, o Jayme Camargo, que estava montando uma produtora com um sócio português. Ele tinha projetos para a RTP e precisava de alguém que o ajudasse. Foi assim que eu comecei. O Jayme me ensinou os rudimentos do roteiro, e me permitiu errar muito e aprender com os erros. Com ele, escrevi séries infantis, juvenis, uma série gravada na África e até um sitcom, com a Tônia Carreiro e o Zé de Abreu, dirigido pelo Cecil Thiré. Infelizmente, nunca cheguei a ver nenhum desses dois programas.

Em 1993, você foi uma das autoras da novela portuguesa “A Banqueira do Povo”, baseada em fatos reais ocorridos na década de 80 e até hoje considerada uma das melhores novelas de Portugal. Como foi esse trabalho que teve Walter Avancini como um dos produtores? (Wesley)

DUCA - Pois então, de posse desses programas que tinha feito com o Jayme, fui procurar o Avancini que, na época, estava também montando uma produtora. Ele gostou do meu trabalho e me chamou para integrar a equipe da “Banqueira”, que era encabeçada pela escritora Patrícia Melo. Foi minha primeira novela e aprendi muito com a Patrícia e com o Maurício Arruda, que também fazia parte da equipe e já tinha feito muita coisa como colaborador do Carlos Lombardi. A “Banqueira” não era um folhetim tradicional. Mais parecia uma minissérie. Era uma história forte, sensacional! Representativa de como foi a passagem de Portugal, do socialismo ao capitalismo. Foi um trabalho duro, o Avancini era muito exigente. Mas era fascinante vê-lo trabalhar. Ele tinha sacadas geniais! Aprendi muito com ele. Sou muito agradecida ao Avancini, que sempre me chamava para participar dos seus projetos. Senti muito quando ele se foi.

Você foi uma das responsáveis pela adaptação do livro “Tocaia Grande” para a TV. Como foi contar com a supervisão de Walter George Durst? Houve dificuldades na realização desse trabalho num momento em que a Manchete passava por dificuldades financeiras e retomava a produção de telenovelas? (Wesley)

DUCA - Eu tive sorte, muita sorte, comecei pelas mãos de grandes mestres da teledramaturgia. O Dürst foi um deles. E o que mais me marcou. Não há um dia sequer na minha vida que eu não me lembre, que eu não recorra aos ensinamentos do Dürst. “Tocaia Grande” foi uma novela formadora pra mim. Aí sim, acho que entendi o que é fazer novela. E, além do Dürst, tive oportunidade de trabalhar também com o Marcos Lazarini e o Mário Teixeira, grandes autores e amigos. Quanto a trabalhar na TV Manchete, era ótimo! A família Bloch tinha um apreço muito grande pelas artes, pela literatura. Valorizava muito o nosso trabalho. E as dificuldades não foram maiores do que as que existem em qualquer produção. “Tocaia Grande” reinaugurou a teledramaturgia da Manchete e abriu espaço para grandes sucesso como, por exemplo, Xica da Silva.


Ao escrever remakes de obras de sucesso como “Os ossos do barão” e “O profeta”, qual o limite entre preservar o estilo da trama original e imprimir um diferencial em relação a ela? (Vitor)


DUCA - O Dürst sempre dizia que adaptar “é trair por amor”. É claro que você tem que manter minimamente a história, mas sempre há mudanças que precisam ser feitas para estar de acordo com o contexto histórico em que a trama se passa, e também para “dialogar” com o público de hoje. “O Profeta” (foto) foi um exemplo claro disso. Originalmente a novela se passou na década de 70 e tivemos que adaptá-la para a década de 50. Por isso o protagonista (que teve o nome alterado para Marcos, pois já havia um Daniel no ar) teve que mudar. O Daniel da década de 70 era muito mais irreverente do que o Marcos, pois a irreverência estava em pauta, naquela época de grandes revoluções no comportamento. Outra coisa: o impedimento amoroso da história original, que era o fato do mocinho vender seus poderes, não era mais considerado como tal, pelo público atual. Ninguém entendia porque a Sônia não queria que o Marcos vendesse seus poderes. Desde que ele não prejudicasse ninguém, achavam que não havia nenhum mal nisso. Ou seja, o que era uma questão ética, moral, na década de 70, em 2000, deixou de ser. Então tivemos que criar um impedimento concreto para o amor de Marcos e Sônia; o Clóvis, um psicopata, que prendia a mocinha no sótão. Impedia o contato físico mesmo entre ele e ela.


Você esteve ao lado de Walcyr Carrasco na estreia dele na Globo com “O cravo e a rosa”. Como se deu esse encontro e que tal a experiência? (Vitor)

Adriana Esteves e Eduardo Moscóvis em "O cravo e a rosa" (2000)



DUCA - Pois é, quem me recomendou ao Walcyr, quando ele foi para a Globo, foi o Avancini. Mais uma que devo a ele. Na verdade, eu já conhecia o Walcyr, da minha passagem pelo SBT. Quando ele foi para a Globo, me chamou. E foi outro grande aprendizado trabalhar com o Walcyr. Um autor de um talento enorme, que conhece seu público como ninguém. E tem uma capacidade de trabalho invejável! Tudo isso sem perder o bom humor. Com o Walcyr aprendi, por exemplo, que, mesmo que a novela seja de época, ela tem que falar ao público de hoje.

Como é a sua rotina quando está trabalhando? A Duca como mãe e esposa é diferente da Duca autora de novelas? (Wesley)

DUCA - Não dá pra separar não. Tem quem ser mãe, esposa e autora de novelas, tudo ao mesmo tempo. É exasperante às vezes. Mas a vida não pára quando você faz novela. Os filhos crescem, os pais envelhecem, os amigos e parentes continuam sentindo a sua falta e solicitando você. Não tem jeito: quando a novela acaba, você se depara com milhões de coisas que ficaram pra trás e têm que ser feitas. Desde ir ao dentista, ao médico, ao cartório, ajudar a sua mãe na mudança, até reencontrar os amigos. A gente leva pelo menos uns seis meses botando a agenda em dia. Só então pode descansar e carregar as baterias para pensar na próxima.
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THELMA GUEDES

Você acredita que a sua formação acadêmica em Letras e o mestrado em Literatura Brasileira foram fundamentais para a sua entrada na televisão? Sempre pensou em escrever roteiros? (Wesley)

THELMA - Posso dizer que o tempo em que estive na universidade, tanto na graduação, quanto na pós, foi um dos momentos mais felizes e importantes da minha vida. Fundamental pra minha relação com a literatura. Desde criança, eu sempre li muito, mas indiscriminadamente e sem um olhar crítico. Na universidade, eu deixei de ser uma leitora ingênua. Isso é de grande valia para quem deseja se tornar escritor (seja qual for a natureza da sua obra). Quem quer ser escritor tem que ler muito mesmo. Mas não acho que seja imprescindível passar pela universidade. No meu caso, foi importantíssimo. A universidade me deu muita segurança. Eu adoro aprender, estudar. E escrever pra mim é como respirar! Mas nunca imaginei que escreveria roteiros e trabalharia em televisão, até que a oportunidade apareceu. Eu não deixei escapar. Meu grande sonho sempre foi, desde muito pequena, ser escritora, viver disso. Mas o meu primeiro roteiro foi o que enviei para a seleção da Oficina da Globo. E logo percebi que eu me sentia muito à vontade como roteirista.

Você entrou na TV Globo através da Oficina de Roteiristas que a emissora promove esporadicamente. Conte como foi o seu ingresso e a sua trajetória durante o tempo em que participou dos projetos até ser convocada como colaboradora na novela “Vila Madalena”. (Wesley)

THELMA - Eu estava terminando o mestrado em Literatura Brasileira, trabalhando na Editora da USP e prestes a lançar meu primeiro livro de contos, quando deparei com um aviso sobre a Oficina da Globo, no mural da universidade. A princípio, achei que era uma oficina comum, apenas para ensinar a técnica de roteiro. Não sabia que haveria uma seleção e que alguns seriam contratados. Eu me inscrevi para aprender a escrever roteiros e ponto. Sem ansiedade e pretensão. Participei de um processo seletivo pesado, em que de 700 inscritos, apenas três foram contratados. Me entreguei de corpo e alma a esse aprendizado, tendo que continuar a trabalhar e a terminar a pós. Foi uma loucura, mas quanto mais eu aprendia a técnica de roteiro, quanto mais eu escrevia, mas me apaixonava por esse jeito de escrever e me expressar. Nessa oficina, coordenada pelo Flavio de Campos, eu aprendi a base de tudo o que eu sei de roteiro de televisão. Eu devo muito a ele. Assim, em 1997, no mesmo dia em que recebi a notícia de que seria contratada, eu lancei o meu primeiro livro. No mesmo dia! Foi demais! Depois que eu entrei na Globo, fiquei um tempinho esperando um chamado para trabalhar. Foi ótimo, porque nesses quatro meses em que não trabalhei, eu consegui terminar de escrever a minha dissertação, entregar e defender. Depois fui chamada pra trabalhar no programa matutino da Angélica. E não parei mais, fui emendando um trabalho no outro. Um colega me indicou pra colaborar na novela do Negrão. Quando a novela acabou, eu corri atrás de um colega de oficina, que estava fazendo o texto final do programa do Renato Aragão, A Turma do Didi. Depois, trabalhei lendo livros e dando pareceres. Imagina que delícia ganhar para ler! Aí, eu conheci o Walcyr quando eu organizei umas palestras. Ele me chamou pra colaborar com ele no Sítio do Picapau Amarelo. Aí, eu colaborei direto com ele: Esperança, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea. Até ele me indicar com a Duca pro Profeta.


Sua incursão na literatura, já rendeu diversos livros, além de participação em coletâneas, como “Novelas, Espelhos e um Pouco de Choro” (Ateliê Editorial/ 1999). Você se considera uma escritora que virou roteirista ou uma roteirista que virou escritora? Algumas vezes, as idéias que você tem para um livro interferem na criação para uma novela? (Wesley)

THELMA - Eu me considero uma escritora. Escritores podem escrever livros, novelas de tv, roteiros de cinema, peças de teatro, etc. Roteirista é escritor. É como eu vejo. Na verdade, acho que o imaginário de um escritor, suas ideias, seus ideais, sua ideologia, seu modo de ver a vida, o que ele quer dizer pro mundo está em tudo que ele escreve: livro, roteiro, crônica de jornal, peça de teatro, qualquer coisa. Não acho que seja “interferência”, acho que é a “essência” da escrita de cada escritor, que passeia ente um ou outro gênero. Mas o que eu quero sempre é comunicar a minha visão de mundo. Ela está em todas as histórias que eu quero contar, seja nos livros ou na televisão.

Você faz parte da AR – Associação dos Roteiristas. Na sua opinião, qual a importância de entidades desse tipo para a valorização da classe? (Vitor)

Assembléia da AR - Associação dos roteiristas

THELMA - Em primeiro lugar, a associação tem um papel super importante, de permitir que a gente se conheça. Porque escritor é um sujeito que, até por força da profissão, acaba ficando muito isolado, solitário, fechado entre quatro paredes, sem contato com outros que fazem a mesma coisa que ele. A troca de experiências e o debate com os colegas é fundamental, mesmo no plano puramente artístico, estético. E claro que a união nos fortalece como classe! No começo da AR, eu tinha tempo para trabalhar muito pela associação, na sua divulgação, promovendo cursos, workshops, palestras, debates. Foi um momento muito interessante e feliz. Conheci muita gente e fiz grandes amigos.

Você foi colaboradora de Walcyr Carrasco em grandes sucessos do autor como “Alma gêmea” e “Chocolate com pimenta” (foto). Como é trabalhar com o autor e o que há de Thelma Guedes nessas novelas? (Vitor)

THELMA - Eu tenho uma tese sobre colaborar em novela: o melhor colaborador é aquele que, quando escreve, tenta escrever como o próprio autor escreveria. Colaborador é alguém que deve deixar o autor livre o máximo possível para escrever melhor e melhor. Acho essencial que se entenda esse limite entre escrever a própria novela e colaborar na novela de outro autor. Posso dizer com orgulho que nessas novelas do Walcyr o que tem de Thelma Guedes é o empenho de fazer o Walcyr ser o melhor Walcyr possível. Pra mim, o colaborador é um rede de segurança para que o autor possa se soltar. Eu era aquela colaboradora que me preocupava com a memória da novela, com a coerência das personagens, com a continuidade estrutural dela. Eu enchia o saco do Walcyr às vezes, quando achava que um capítulo não tinha o brilho que é próprio do Walcyr. Eu ajudava nos problemas de produção, na edição, quando o capítulo ficava grande. Tomando conta para que os ganchos não se perdessem, ou para que falas importantes não fossem cortadas. Eu era uma colaboradora que realmente colaborava. Porque eu não queria escrever a novela que não era a minha novela. Eu queria deixar o caminho livre pro Walcyr escrever melhor novela . Hoje eu estou do outro lado e espero dos nossos colaboradores exatamente isso. E temos muita sorte. Nossos colaboradores são os melhores que existem!!!


Como é a Thelma quando está trabalhando? Sua rotina muda em relação à família? (Wesley)

THELMA - Eu tenho a felicidade de ter total apoio do meu marido e das minhas enteadas (que são como filhas). Quando estamos no ar com alguma novela, a rotina é bem dura, eu fico 24 horas ligada no trabalho. Até dormindo eu sonho com a novela. Fico pendurada no computador, telefone, televisão. Quando trabalho em casa, o ambiente fica tomado pelo meu trabalho. Por isso mesmo, Duca e eu fazemos reuniões diárias num escritório fora de nossas casas, num escritório, num flat. Mas o que é bacana é que a minha familia compreende, respeita, incentiva, torce. E todos assistem religiosamente a novela que estou escrevendo. Meu marido, que é um intelectual e não assistia televisão antes, assiste tudo que eu faço, desde o primeiro programa infantil que eu escrevi.

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THELMA E DUCA

Como surgiu a dupla Duca e Thelma? (Vitor)

Thelma: O Walcyr Carrasco foi chamado para supervisionar o remake da novela O Profeta. E ele nos juntou para escrevê-la. O Walcyr é o culpado! RS

Duca: Coitado do Walcyr! Vai ter que espiar essa culpa pro resto da vida...


Vocês acham que esse esquema de parceria entre autores titulares pode ser uma nova forma de escrever novela num futuro próximo? Quais as maiores vantagens e desvantagens? (Wesley)

Thelma: Na criação não pode haver fórmula. A escrita em dupla, no mesmo pé de igualdade, com duas pessoas decidindo tudo, depende de uma sintonia muito grande, que não pode ser forjada. Ela existe ou não.

Duca: É isso aí. Podemos falar pela nossa experiência. No nosso caso, a gente tem se dado bem escrevendo juntas. Tem dado certo. Assim temos conseguido uma dinâmica que não sei se conseguiríamos sozinhas. Talvez sim, não sei... Mas acho que não é uma fórmula pra todo mundo não. E isso também não significa que a gente não possa trabalhar em separado, por um tempo. Pra depois se juntar de novo, rapidinho... (rsrsrsrs)


Até que ponto a supervisão de texto influencia no trabalho do autor? (Vitor)

Thelma: Se a supervisão influenciar, ela deixa de ser supervisão e passa a ser intromissão na obra alheia. O supervisor deve ser um apoiador, questionador, “alertador” para possíveis riscos que o autor está correndo. Pode e deve sugerir, mas sempre respeitando o universo e estilo do autor.

Duca: Pois é, o trabalho do supervisor é difícil porque tá nesse fio de navalha. O supervisor tem que se valer da experiência para te apontar falhas e dar dicas do que pode ser a melhor maneira de conduzir o trabalho. Mas tem que deixar que você escreva a sua novela. Não dá pro supervisor querer que você escreva a novela “dele”.


Como é a divisão de trabalho entre vocês e seus colaboradores? (Vitor)

Thelma: Nós duas costumamos nos reunir diariamente para bolar os acontecimentos da história e escaletar os capítulos. Os colaboradores escrevem as cenas. Depois uma de nós junta as cenas e faz uma edição (mudando, acrescentando, cortando). Em seguida, a outra lê e faz o texto final. Aí a gente manda pros colaboradores lerem, verem erros, fazerem criticas e darem ideias. Estamos sempre abertas para ouvir o que eles têm a dizer. Aproveitamos ideias. Às vezes, chegamos a reescrever, mudando o rumo das coisas por causa de uma sugestão ou crítica. Porque o que nos interessa é sempre o melhor produto.

Houve tentativas de emplacar sinopses de suas autorias antes de entrar para o hall de autores titulares da Globo? Receberam muitos “não”? (Wesley)

Thelma: Antes de O Profeta , a Duca era autora do Sítio do Picapau Amarelo. Já estava se aproximando dessa entrada no time de autores de novela. Mas eu confesso que não imaginava que isso pudesse acontecer tão logo pra mim. Por isso, apesar de ter escrito algumas sinopses pra minha gaveta, eu não as enviava para a direção, porque eu sabia que ninguém ia se interessar por elas ainda. A minha intenção era consolidar a carreira de colaboradora, para dar o próximo passo, no momento certo. O momento certo veio antes, naturalmente.

Duca: Eu já tinha sim, arriscado mandar algumas sinopses. Hoje posso avaliar melhor e saber que algumas precisavam ser retrabalhadas, talvez por isso não tenham sido aceitas. Mas valeu pelo exercício. E muitas das idéias daquelas sinopses podem ser reaproveitadas no futuro.

Como vocês, autoras dessa nova geração, veem a novela do futuro? Como seria a novela perfeita? (Wesley)

Thelma: Acho que a novela do futuro vai ter que se adequar às novas mídias que estão surgindo. Talvez mais curta, ágil e interativa. Mas acredito que esse gênero resistirá a todas as mudanças tecnológicas e comportamentais que estão por vir. Porque desde que o mundo é mundo, o homem adora e precisa de uma boa narrativa ficcional. Quanto à novela perfeita, ela não existe, porque não existe perfeição. Mas a “quase perfeita” é aquela que consegue se comunicar com o público, que entretém, emociona e, ao mesmo tempo, consegue introduzir o espectador no universo sublime da arte.

Duca: Acho sim que a novela vai ter que ser mais curta, mais ágil, interativa, com personagens menos maniqueístas. Mas a essência do folhetim deve permanecer. Quando a novela perfeita, eu só consigo me lembrar daquela música do Gil: “...a perfeição é uma meta, defendida pelo goleiro , que joga na seleção, e eu não sou Pelé nem nada, se muito for, eu sou um Tostão. Fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão...” Emocionando e entretendo já tá muito bom!

“Cama de Gato” pode ser considerada como uma “prova de fogo” no intuito de avaliar a carreira de vocês duas na Globo? Tiveram algum receio de que o projeto não tivesse os resultados desejados pela empresa? (Wesley)



Thelma: Claro que, como nosso primeiro projeto original, a “Cama” acabou sendo um aval pra gente. Mas eu sempre confiei muito nessa história, porque ela estava calcado numa base humana, existencial forte e verdadeira. Nós duas tínhamos o que dizer e acreditávamos nisso. E eu não ficava pensando nos resultados, mas no processo. Quando eu trabalho, procuro me concentrar no que estou fazendo. Se vc faz o melhor que pode, vc precisa confiar e ir em frente, com entusiasmo e sem medo. Senão, melhor nem se meter a escrever a sinopse.

Duca: Claro que sempre dá um friozinho na barriga. Novela é um jogo. Por mais que você confie no projeto, há sempre o imponderável. E se você ficar pensando muito no que pode não dar certo, não consegue seguir adiante. Tem que ter uma história boa na mão, que tenha força, fôlego, verdade, e tocar o barco, com coragem, da maneira mais honesta possível, dando o seu melhor.

Vocês têm projetos para escrever em outros formatos como minisséries, especiais e seriados? (Wesley)

Thelma: Aos montes... rs

Vocês são noveleiras? Se, sim, quais as suas favoritas? Na opinião de vocês o que o gênero “Telenovela” representa em nosso país? (Vitor)

Thelma: Sou noveleira de carteirinha, desde que me entendo por gente. As favoritas são Beto Rockfeller, Roque Santeiro, Saramandaia, Irmãos Coragem, Pecado Capital, Dancing Days, Vale Tudo, Guerra dos Sexos... Ai, as minhas favoritas são tantas, que eu ficaria aqui o dia todo elencando... A novela de televisão é um gênero que está tão incorporado ao nosso universo, que é quase um patrimônio nacional. É um importante meio de informação e entretenimento para a população. E é uma expressão do imaginário popular brasileiro.

Duca: É isso aí! A Thelma disse tudo. Eu só acrescentaria que a telenovela brasileira é um gênero único no mundo. Ninguém faz telenovela como a gente. Eu também sou muito noveleira. Minhas favoritas são todas essas que a Thelma citou mais Gabriela, O Feijão e o Sonho, Top Model, Rainha da sucata, Nina, Bebê a Bordo, Uga-Uga.... Ah! São tantas...! Não dá pra falar de todas aqui.

Que dicas e conselhos dariam a jovens que aspiram a trabalhar na TV?(Vitor)

Thelma: Acho que a primeira coisa é ler muito, estudar e se preparar. E buscar uma avaliação imparcial de outros sobre sua real capacidade e talento. Não adianta a pessoa se achar um gênio. É necessário que haja o reconhecimento dos outros. A melhor maneira é fazer oficinas, cursos.

Duca: Ler, ver, ouvir, viver. Estar antenado às oportunidades de cursos e oficinas. Perseverança e uma boa dose de sorte também ajudam. No mais, é saber deixar o ego em casa na hora de ouvir as críticas. Televisão é um trabalhado de equipe. Todo mundo contribui, o diretor, o colaborador, o ator, o produtor... É importante saber ouvir e incorporar as boas idéias.
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Thelma Guedes por Duca Rachid (Vitor) 
 
DUCA - Ah, a Thelma é minha melhor amiga. Minha parceira e agora minha comadre também, pois acabou de batizar minha filha. Eu tenho a maior admiração por ela, pelo talento, pela capacidade de trabalho e também pela sua conduta ética e moral. A Thelma é muito melhor do que eu como escritora. Eu tenho que quebrar muita pedra pra chegar lá. A Thelma não, ela é uma artista de verdade. Ela tem o chamado da arte dentro dela. Tem livros maravilhosos, que deviam ser mais conhecidos.


Duca Rachid por Thelma Guedes (Vitor)

Thelma- Uma irmã gêmea univitelina que caiu do céu (rs). A melhor parceira de trabalho que eu poderia ter (aliás, a única possível, porque eu sou uma chata de galocha e só ela pra me agüentar...). A Duca é um escritora com E maiúsculo: talentosa, iluminada, brilhante, entusiasmada, incansável. Eu tenho uma imensa admiração por ela. E o que a faz ser maior e melhor é justamente a simplicidade, a humildade, o desapego. Confesso que eu tenho muito o que aprender com ela. Mas um dia eu chego lá!
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Meninas, obrigado pela simpatia e disponibilidade. Mais sucesso ainda na carreira das duas!


Agradecimento mais que especial: Wesley Vieira
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12 comentários:

Vicente disse...

Mais um gol de placa do "melão". Parabéns pelas entrevistas. A Thelma e a Duca são realmente maravilhosas mas confesso que a unidade dos entrevistadores se confunde com a das entrevistadas. Há uma nova dupla surgindo no horizonte...

O Vitor viu... disse...

Sinto que vc captou a ideia, Vicente...rsrsrs! Quem sabe, quem sabe.....rs! Abração!

Eddy disse...

Nossa, tio! Adorei a entrevista. Parabéns ao Wesley também. Haja sintonia em ambas as duplas. Adorei, adorei! Curto o trabalho da Duca e da Thelma, enfim. Sucesso pra elas, pro Melão, pra todos nós!

Abração!

RÔ_drigo disse...

krak terminei de ler arrepiado,confesso!!
+uma baaaaaaaaaaita entrevista do Melão, golaço!!!

TH disse...

Perfeito point de vocês, rapazes!
É exatamente nisso que a gente descobre a atmosfera das parcerias- quando elas acontecem não apenas porque ambos escolhem - mas quando as circunstâncias levam a isso.
Parabéns!

Pedro_Delabrida disse...

Vitor e Wesley, a entrevista ficou excelente! Ao mesmo tempo em que a simpatia e competência das autoras foi posta sobre a mesa, vocês dois souberam com maestria dar as cartas. Concordo com o amigo Vicente: uma nova dupla no horizonte! O Melão, mais uma vez, fazendo jus à sua competência... parabéns, meninos!

aladimiguel disse...

Essa dupla promete hein... É sangue novo e bom correndo nas veias da nossa teledramturgia. Precisamos de novas idéias como as delas. Parabéns á você e ao Wesley pela ótima entrevista e parabéns também para as autoras Duca e Thelma, sempre tão agradáveis e simpáticas nas respostas. Abração Amigo !

Aladim Miguel
Arquivo Lucélia Santos / RJ
Brasil

Duh Secco disse...

Melão sempre com boas entrevistas. E esta ainda contou com o luxuoso auxílio do Wesley (adoro muito, mas ando conversando pouco. rs).

Duca e Thelma me conquistaram em Cama de Gato. O Profeta não era muito a minha praia, mas a trama de Gustavo Brandão me prendeu! E essa entrevista me fez ainda mais fã delas. Ansioso pra próxima trama!

Ivan disse...

Que entrevista deliciosa!!!! Melão sempre de altíssimo nível!!! fico na torcida aqui por vcs Vitor e Wesley! sucesso p vcs tb, talento vcs tem e muito!
bjs

Unknown disse...

Uma entrevista memorável. Mto boa, como a do Alcides Nogueira. O legal do Melão é podermos conhecer melhor o pessoal que cria os universos fantásticos que vemos nas telas. Tiro duas coisas importantes disso:
1 - O ensinamento do Walcyr, que disse que mesmo de época, a novela precisa falar ao publico de hj. É preciso haver uma conexão afetiva da história com seu publico. É isso que gera o sucesso ou o fracasso do produto.
2 - Não adianta vc se achar um gênio. É preciso que outras pessoas também achem. Se não tiver isso, amigos, vc pode ser o mais criativo dos autores, mas sua obra ficará restrita à memória do seu computador, ou às gavetas do seu armário, caso vc imprima. Foi pensando nisso que resolvi criar o Literatura Exposta. Se sou bom ou não, é o povo que me lê que precisa dizer, e não apenas eu achar.

Parabéns, Vitor! Vc merece cada palavra de felicitação que recebe aqui. Mto boa a entrevista.

O Vitor viu... disse...

Obrigado a todos pelo carinho e por prestigiarem sempre o melão! Abraços!!!

Anônimo disse...

Ótimas perguntas, e ótimas respostas. Muito bom conhecer a tragetória dessas duas autoras, e constatar a parceria delas, observar que duas mentes podem trabalhar juntas em prol do mesmo projeto. Elas tem uma afinidade incrível! Parabéns por mais essa entrevista! Muito bom ver os autores por aqui! Meu sonho é acessar o blog e descobrir que o Manoel Carlos também prefere Melão! rs

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